sábado, 16 de janeiro de 2010



POEMA ABANDONADO

Um poema abandonado
Numa página qualquer
Nunca d´ antes então lembrado
Como um velho bem-me-quer


Um poema enclausurado
Em sua linha diacrónica
Tanto tempo ali parado
Sua cegueira já é crônica


Rasgue o lacre grite o verso
Que o poema transcendeu
Esse sonho é tão perverso


Foi você quem concebeu
Malfadado beijo inverso
O poema aconteceu.

Julio Costa

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010


XIII


"Ora (direis) ouvir estrelas! Certo
Perdeste o senso!" E eu vos direi, no entanto,
Que, para ouvi-las, muita vez desperto
E abro as janelas, pálido de espanto...

E conversamos toda a noite, enquanto

A via láctea, como um pálio aberto,
Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,
Inda as procuro pelo céu deserto.

Direis agora: "Tresloucado amigo!
Que conversas com elas? Que sentido
Tem o que dizem, quando estão contigo?"

E eu vos direi: "Amai para entendê-las!
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender estrelas."


Olavo Bilac

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010


Soneto de Fidelidade

De tudo ao meu amor serei atento

Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto

Que mesmo em face do maior encanto

Dele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento

E em seu louvor hei de espalhar meu canto

E rir meu riso e derramar meu pranto

Ao seu pesar ou seu contentamento

E assim, quando mais tarde me procure

Quem sabe a morte, angústia de quem vive

Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa me dizer do amor (que tive):

Que não seja imortal, posto que é chama

Mas que seja infinito enquanto dure.